Estudos recentes apontam o 'Homo florensiensis', espécie descoberta em 2003 na Indonésia, como o primeiro a deixar África para colonizar outros pontos do globo
Cerca de um metro de altura, cérebro do tamanho de uma laranja, pés compridos e chatos. Os cientistas chamam-lhe "hobbit", mas não saiu de nenhum livro de Tolkien. Desde 2003 que a descoberta de ossadas de uma nova espécie está a ameaçar revolucionar a história da raça humana.
Quando um grupo de investigadores australianos começou a escavar o solo de Ling Bua, uma caverna de calcário na ilha das Flores, não podia adivinhar que estavam prestes a fazer uma das mais importantes descobertas arqueológicas de sempre. A ilha indonésia escondia, até há pouco mais de seis anos, a existência de uma espécie humana que não constava nos manuais de antropologia, o Homo florensiensis.
Desde essa altura que a descoberta tem causado uma acesa discussão entre cientistas sobre a origem desta espécie, que no início se pensava serem apenas humanos "modernos" que padeciam de doenças como a microcefalia, uma patologia que conduz a um desenvolvimento reduzido do crânio e do cérebro. Uma outra teoria rejeitava o "hobbit" como sendo uma nova espécie, dizendo que estas ossadas pertenceriam aos nossos antepassados Homo erectus , que teriam encolhido devido às condições de vida na ilha. Mas estudos recentes confirmam que se trata efectivamente de uma nova espécie. Desengane-se quem pensa que a discussão acaba aqui. Um artigo publicado ontem pelo editor de ciência do jornal britânico The Observer revela que as últimas pesquisas chegaram a conclusões no mínimo surpreendentes. A expedição liderada por Mike Morwood pode ter resultado na descoberta de um descendente directo do Homo habilis, espécie que apareceu pouco após a extinção do Australopithecus , correspondente ao primeiro estado de evolução da espécie humana.
A notícia está a deixar perplexa a comunidade científica, já que o Homo habilis viveu há cerca de dois milhões de anos, enquanto o "hobbit" se extinguiu apenas há 17 mil anos. São várias as questões que se levantam. Como poderá o "hobbit" ser descendente de uma espécie tão antiga? Como é possível que tenha migrado de África, onde vivia o Homo habilis, até à Indonésia? Os pés chatos e a pequena estatura tornavam a tarefa praticamente impossível. O que é certo é que as pesquisas mostram que o pequeno ser deixou África para colonizar parte do Sudeste asiático há mais de dois milhões de anos.
Esta teoria pode revolucionar a história da raça humana, já que até agora se acreditava que tinha sido o Homo erectus a primeira espécie a deixar o continente africano e a colonizar outros pontos do globo.
"Encontrámos uma ilha onde uma espécie foi separada do resto da evolução durante mais de um milhão de anos", explicou Morwood ao The Observer. O investigador acredita que, por ser uma região remota, a ilha das Flores concedeu uma protecção especial à espécie, que teve uma duração fora do comum, à semelhança de alguns animais que habitaram a ilha. "Houve , por exemplo, os elefantes-pigmeus e o dragão de Komodo, agora temos o Homo florensiensis."
in DN Ciência
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