Boaventura de Sousa Santos: “É possível que amanhã tenhamos que voltar às lutas ilegais”
A mesa não tinha mulheres. Eram oito pessoas, nenhuma era mulher. Os sete primeiros homens falaram e parece que não perceberam a distorção de uma das atividades que mais juntou gente no Fórum Social Temático, lotando o Teatro Dante Barone, na Assembleia Legislativa, sexta-feira 27 à tarde. O oitavo dos homens a discutir “o sentido da democracia” parecia o mais sensível e mais preocupado. Boaventura de Sousa Santos só começou sua palestra depois de reclamar da falta de presença feminina na mesa enquanto tantas mulheres se faziam presentes na plateia. Mas não foi só por isso que, ao final, foi aplaudido de pé.
“A luta democrática tem que ser anticapitalista.” Começou assim a aula do sociólogo português. A democracia era o tema do encontro daqueles oito homens, e Boaventura não deixou de mencionar a sua ausência ou a ameaça de que deixe de existir. Passamos por um momento em que, segundo ele, um dos maiores países capitalistas, a China, dispensa a democracia e outro grande bloco tem a democracia suspensa. A União Europeia, “o berço da democracia e que tentou ensinar ao mundo durante cinco séculos os valores da civilização”, tem agora suas instituições democráticas suspensas e vive uma crise que é econômica e política.
“A presidenta disse q o Brasil já teve neoliberalismo, mas que agora os brasileiros não vão deixar o neoliberalismo entrar novamente. Que deus a ouça.” Boaventura foi tão enfático porque “o neoliberalismo conseguiu esvaziar a democracia de sua vertente redistributiva, e por isso temos hoje democracias de baixa e de baixíssima intensidade”. O roubo e a acumulação originária primitiva chegaram aos salários dos operários europeus, disse Boaventura, encerrando o debate dos motivos da crise e iniciando o das suas alternativas.
A esquerda esqueceu-se de pensar
“As instituições democráticas já não satisfazem as necessidades dos cidadãos.” Alertando sobre as alternativas que se nos apresentam (que podem ser piores do que o que já temos) à crise das instituições, acrescentou que “a democracia representativa virou-se de costas para as populações”. Não surpreende, portanto, que o anarquismo seja a única tradição sobrevivente nos movimentos europeus. Para ele, esquerda e direita “golpeiam da mesma forma” os povos camponeses, indígenas e quilombolas nesse continente.
Impossível avaliar alternativas ao capitalismo que coloca a democracia em crise sem passar pelos movimentos de jovens que estão tomando os espaços, especialmente na Europa. “Autodeterminação dos povos é o que pode nos defender da loucura da globalização neoliberal. A sociedade civil nos responde nos únicos espaços não tomados pelo capitalismo financeiro: as ruas, as praças. A presença dos movimentos nas ruas mostra que a democracia está nas ruas em estados antidemocráticos.” Não faltou crítica à esquerda, no mundo todo, que não pensa, não debate, não progride: “a grande maldição da esquerda no século XX foi transformar militantes em funcionários. Temos que começar pela refundação dos partidos e pela democracia nos movimentos. As cartas dos movimentos da Puerta del Sol mostram essa preocupação pela horizontalidade, pela democracia. A esquerda tem que pensar e a esquerda esqueceu-se de pensar”.
O fascismo ameaça a democracia
E a democracia, para Boaventura, passa pelo respeito à diferente história dos povos do Brasil, não apenas pela redução da pobreza. E, nesse caminho, chama a repensar muitos dos nossos instrumentos de politica. “É possível que amanhã tenhamos que voltar às lutas ilegais”, afinal, é possível que o fascismo, que já toma conta, substitua a democracia no próximo período. As lutas podem ter que ocorrer “por dentro e por fora do Estado, constitucionais e não constitucionais”. Falando exclusivamente de Brasil, em uma crítica direta à presidenta Dilma, disse que “os movimentos sociais talvez hoje se sintam menos acolhidos pela Presidência da República de gente que lutou como eles”.
Boaventura defendeu a autodeterminação como um outro modelo de desenvolvimento, que é parte da luta democrática. “Temos que nos habituar a pensar que os nossos objetos de consumo – tecnologia, roupas – têm sangue. Trabalho escravo é sangue. Há um ciclo de produção que nega a vida, que destrói a vida. E nos obriga a pensar numa outra pauta de direitos humanos, o direito da natureza, que pode nos dar uma nova forma de vida, de prosperidade, que pode não passar pelo crescimento econômico.”
Sobrou também crítica ao governo do Rio Grande do Sul, do amigo Tarso Genro, “um dos homens que melhor pensa a politica no continente latino-americano”. O sociólogo amaciou o ego do governador pouco antes de afirmar que ele precisava fazer no estado a reforma política que não conseguiu aprovar enquanto ministro da Justiça. Tarso falara logo antes de Boaventura e mencionara a dificuldade que passou, também criticando o governo petista do qual fez parte. Bem informado, o português falou na falta de comunicação entre as secretarias estaduais, que muitas vezes não se comunicam nem internamente.
O horário das utopias realistas
A luta dos povos indígenas, quilombolas e campesinos é sempre tema de Boaventura, e dessa vez não foi diferente. “Não podemos tolerar que os indígenas morram todos os dias à beira da estrada porque foram expulsos de suas terras. A reforma do Estado, a refundação da democracia, dos partidos, dos movimentos, é a nossa única garantia da sustentabilidade da democracia. A direita está mostrando que dispensa a democracia. Quem não pode dispensar a democracia é a esquerda. Portanto não podemos falar de sentidos da democracia (Tarso falara no sentido das democracias grega, estadunidense, latino-americana e brasileira). Temos é que democratizar a democracia. Os povos têm que ter suas formas de democracia respeitadas. Indígenas urbanos tinham dificuldade de se adaptar ao Orçamento Participativo porque tinham sua forma de decisão coletiva”. Uma anedota serviu para justificar o argumento do sociólogo. Contou que, quando foi promulgada a constituição da Bolívia, nas primeiras eleições uma comunidade votou 99% a favor de um candidato. A oposição então fez uma queixa de que teria sido fraudada. Foram averiguar e descobriram que se tratava de uma comunidade indígena que passou quatro dias consensuando em quem votar. “O que parecia uma fraude eleitoral era uma forma de democracia de alta intensidade que estaríamos perdendo se não calculássemos essas formas de democracia alternativa.”
Boaventura encerrou com a chamada ao debate. Para que a esquerda pense e proponha alternativas. “Temos q pensar uma nova forma, que não é o capitalismo verde. Podem dizer que é uma utopia, mas todas as utopias têm um horário. E esse é o horário das utopias realistas.”
Ser ou não ser? Eis a questão que salvou Tiago, o rapaz da faca
Apesar de a arma lhe ter sido apreendida, o arguido foi absolvido
Apesar de a arma lhe ter sido apreendida, o arguido foi absolvido google life 1/1 + fotogalería .Faltam 15 dias para o Tiago André fazer 23 anos. Uma biografia cheia de estilo, sem grandes percalços e com muita tranquilidade. Em suma, sem stresses. Também foi sem stresse que o Tiago decidiu não comparecer em tribunal, apesar de ter sido notificado. Mesmo assim, o julgamento realiza-se na sua ausência. "E o arguido vai ter de pagar por não ter vindo", promete a juíza. A ver vamos.
Apresenta-se, como testemunha do crime praticado pelo Tiago André, o agente João da PSP. Às 13 horas do dia anterior, percebeu que se passava qualquer coisa de estranho com um carro que circulava na rua. O motivo da suspeita parece meio óbvio: os ocupantes, condutor incluído, circulavam com os bancos completamente recostados para trás, mas com os cintos de segurança postos (sim, porque há coisas em que um sacana não transgride: conduzir deitado é uma coisa, conduzir sem cinto de segurança já é passar dos limites). Mandados parar, os quatro indivíduos que seguiam no carro, todos na casa dos 20 anos, rapidamente perceberam que estavam tramados. Os agentes comunicaram com a central da polícia, que informou que aquela viatura, com aquela matrícula, constava da base de dados para ser apreendida. Assim sendo, carro e passageiros foram obrigados a rumar à esquadra. Já na polícia, percebe-se que houve um engano. Afinal, a viatura não constava da lista de apreensões coisíssima nenhuma. Tinha havido um erro na base de dados das polícias. Tiago André e os companheiros podiam, agora, suspirar de alívio. E estavam, de facto, a suspirar de alívio enquanto eram revistados pelos polícias. Mas como um azar nunca vem só, quando chegou a vez do Tiago, caiu-lhe do bolso, descuidadamente e no meio de tanta ansiedade, uma faca de abertura automática com uma lâmina reluzente e nove centímetros de comprimento. Fez-se silêncio. Tiago ficou acusado do crime de detenção de arma proibida.
Como não compareceu à chamada do tribunal, foi o agente João quem explicou o que aconteceu a seguir. "Ele disse que sabia que aquilo era uma arma proibida, mas não pareceu muito importado." Tiago terá confessado ainda que a faca era mesmo sua, apesar de jurar que a tinha encontrado, caída no chão, do nada, no dia anterior. Os agentes perguntaram-lhe pelo cartão do cidadão ou pelo bilhete de identidade. "Não tenho aqui." Então e não tem alguém em casa que possa cá vir trazer? "Negativo." Não se pode ir lá a casa buscar os documentos? "Não tenho chave e não está lá ninguém." Como é que se chamam os seus pais? "Não me recordo." E os agentes da PSP já a bufar de irritação.
Como é que se identifica um homem que não se deixa identificar? Leva-se o dito à PJ. Se tiver cadastro, tanto melhor. Senão, tenta-se ir por outras vias, periciais. A Judiciária, garantem os agentes da PSP, atestou documentalmente que o jovem era mesmo o Tiago André. Os agentes ficaram com o número da resenha elaborada pelos inspectores e vieram-se embora, sem trazer uma cópia. Estavam longe de saber que a ausência material do documento viria a ditar a sorte do acusado.
No julgamento, o procurador do Ministério Público abriu logo as hostilidades: "É preciso ter a certeza, para além de qualquer dúvida razoável, como dizem os americanos, na identificação da pessoa e não conhecemos a resenha da PJ, porque não foi junta ao processo, só o seu número. Por dúvidas quanto à identificação do sujeito, requer-se a absolvição." Segue-se a advogada de defesa oficiosa: "Também pedimos a absolvição, até porque nós sabemos que, por vezes, os arguidos trazem facas e não sabem que se trata de armas proibidas".
Por último, diz a juíza de sua sentença: "Não se provou que o arguido praticou os factos, nem que agiu de forma deliberada e consciente sem saber se a sua actuação era punida por lei. A faca que consta na acusação foi apreendida. Mas o tribunal tem dúvidas em relação à autoria dos factos pelo arguido, que foi identificado verbalmente, mas essa prova não é suficiente". Por isso, continuou, "o tribunal entende não estar suficientemente provado que o acto foi cometido pela pessoa. E como os crimes são acções humanas, impõe-se a absolvição do arguido".
Caso encerrado. Cá fora, os dois agentes da PSP dirigem--se para a saída enquanto se queixam, entredentes: "Então um tipo é apanhado com uma arma ilegal e é absolvido?"
Uma coisa é certa: este ano, o Tiago André vai ter de comprar uma faca nova para cortar o bolo de aniversário.
Os jovens acampados no Rossio e nas praças de Espanha são os primeiros sinais da emergência de um novo espaço público – a rua e a praça – onde se discute o sequestro das atuais democracias pelos interesses de minorias poderosas e se apontam os caminhos da construção de democracias mais robustas, mais capazes de salvaguardar os interesses das maiorias. A importância da sua luta mede-se pela ira com que investem contra eles as forças conservadoras. O artigo é de Boaventura de Sousa Santos.
Nos próximos tempos, as elites conservadoras europeias, tanto políticas como culturais, vão ter um choque: os europeus são gente comum e, quando sujeitos às mesmas provações ou às mesmas frustrações por que têm passado outros povos noutras regiões do mundo, em vez de reagir à europeia, reagem como eles. Para essas elites, reagir à europeia é acreditar nas instituições e agir sempre nos limites que elas impõem. Um bom cidadão é um cidadão bem comportado, e este é o que vive entre as comportas das instituições.
Dado o desigual desenvolvimento do mundo, não é de prever que os europeus venham a ser sujeitos, nos tempos mais próximos, às mesmas provações a que têm sido sujeitos os africanos, os latino-americanos ou os asiáticos. Mas tudo indica que possam vir a ser sujeitos às mesmas frustrações. Formulado de modos muito diversos, o desejo de uma sociedade mais democrática e mais justa é hoje um bem comum da humanidade. O papel das instituições é regular as expectativas dos cidadãos de modo a evitar que o abismo entre esse desejo e a sua realização não seja tão grande que a frustração atinja níveis perturbadores.
Ora é observável um pouco por toda a parte que as instituições existentes estão a desempenhar pior o seu papel, sendo-lhes cada vez mais difícil conter a frustração dos cidadãos. Se as instituições existentes não servem, é necessário reformá-las ou criar outras. Enquanto tal não ocorre, é legítimo e democrático atuar à margem delas, pacificamente, nas ruas e nas praças. Estamos a entrar num período pós-institucional.
Os jovens acampados no Rossio e nas praças de Espanha são os primeiros sinais da emergência de um novo espaço público – a rua e a praça – onde se discute o sequestro das atuais democracias pelos interesses de minorias poderosas e se apontam os caminhos da construção de democracias mais robustas, mais capazes de salvaguardar os interesses das maiorias. A importância da sua luta mede-se pela ira com que investem contra eles as forças conservadoras. Os acampados não têm de ser impecáveis nas suas análises, exaustivos nas suas denúncias ou rigorosos nas suas propostas. Basta-lhes ser clarividentes na urgência em ampliar a agenda política e o horizonte de possibilidades democráticas, e genuínos na aspiração a uma vida digna e social e ecologicamente mais justa.
Para contextualizar a luta das acampadas e dos acampados, são oportunas duas observações. A primeira é que, ao contrário dos jovens (anarquistas e outros) das ruas de Londres, Paris e Moscou no início do século XX, os acampados não lançam bombas nem atentam contra a vida dos dirigentes políticos. Manifestam-se pacificamente e a favor de mais democracia. É um avanço histórico notável que só a miopia das ideologias e a estreiteza dos interesses não permite ver. Apesar de todas as armadilhas do liberalismo, a democracia entrou no imaginário das grandes maiorias como um ideal libertador, o ideal da democracia verdadeira ou real. É um ideal que, se levado a sério, constitui uma ameaça fatal para aqueles cujo dinheiro ou posição social lhes tem permitido manipular impunemente o jogo democrático.
A segunda observação é que os momentos mais criativos da democracia raramente ocorreram nas salas dos parlamentos. Ocorreram nas ruas, onde os cidadãos revoltados forçaram as mudanças de regime ou a ampliação das agendas políticas. Entre muitas outras demandas, os acampados exigem a resistência às imposições da troika para que a vida dos cidadãos tenha prioridade sobre os lucros dos banqueiros e especuladores; a recusa ou a renegociação da dívida; um modelo de desenvolvimento social e ecologicamente justo; o fim da discriminação sexual e racial e da xenofobia contra os imigrantes; a não privatização de bens comuns da humanidade, como a água, ou de bens públicos, como os correios; a reforma do sistema político para o tornar mais participativo, mais transparente e imune à corrupção.
A pensar nas eleições acabei por não falar das eleições. Não falei?
José Manuel Coelho, (Partido Trabalhista Português) e Garcia Pereira (PCTP/MRPP) invadem RTP com cartazes que diziam "Televisões só convidam os cinco ladrões"!
José Manuel Coelho, (Partido Trabalhista Português) e Garcia Pereira (PCTP/MRPP) escaparam à segurança, passaram a portaria e invadiram a propriedade da estação pública com um grupo de manifestantes com cartazes que diziam "televisões só convidam os cinco ladrões".
Os protestos deveram-se ao facto de estes partidos não estarem incluídos no lote de debates que as televisões vão fazer até 20 de Maio.
"in Diário de Noticias"
O “candidato” Coelho nas presidenciais, disse verdades, que toda a gente vê mas ninguém tem coragem de falar.
O Garcia Pereira, não me identificando com o partido dele, admiro-o como bom advogado, defende causas dos trabalhadores e quase sempre as vence!
Se vivemos em democracia, que pressupõem haver igualdade de tratamento e de direitos é absolutamente inaceitável que os pequenos partidos não possam estar em pé de igualdade com os grandes.
Como podemos ouvir as ideias de todas as correntes políticas se nos é imposta pela comunicação social sempre os mesmos 5 ?
Cavaco Silva ainda agora disse: “é preciso dar voz aos mais fracos”! (esta é para rir)
Todos os partidos (e seus membros e representantes) que vão participar nos debates "acham" que a democracia está garantida com a sua presença, afinal, quantos mais falarem mais baralhado fica o povo, não é? Todos querem mais votos e mais partidos é dividir ainda mais os votos.
A arrogância e presunção com que o fazem destaca os princípios que tem: nenhuns. A terem "princípios" diriam que não participavam nestes debates a não ser que todos e de igual modo, tivessem voz. Cabe ao povo decidir depois quem o representa.
Eis o que se passou, conforme post no Blog de João Carvalho Fernandes - Nova Democracia:
NOVA DEMOCRACIA PARTICIPOU EM PROTESTO NA RTP
Um grupo de manifestantes, em representação da Nova Democracia, PCTP/MRPP, Partido Trabalhista Português e MPT, invadiu ontem as instalações da RTP, em Lisboa, a poucos minutos do primeiro debate para eleições legislativas, com os candidatos Paulo Portas e Jerónimo de Sousa.
A manifestação pretendia protestar contra a descriminação de acesso às televisões dos partidos sem assento parlamentar.
Depois de terminado o debate uma delegação composta por João Carvalho Fernandes (PND), Garcia Pereira (PCTP/MRPP), José Manuel Coelho (PTP) e Pedro Quartim Graça (MPT) foi recebida pelo director de informação da RTP, Nuno Santos ao qual exprimiu o seu protesto, pedindo esclarecimentos sobre as razões de não haver na televisão pública igualdade de tratamento conforme está estabelecido na lei. A reunião foi totalmente inconclusiva, tendo terminado após ambas as partes terem reafirmado as suas posições.
Ficamos a conhecer também a parcialidade da televisão pública. A RTP deveria, como meio de comunicação público e que por isso é subsidiada pelos portugueses, defender os interesses do público e não dos influentes partidos interessados em manter a sua coutada.
Poderão dizer que seria um perda de tempo, dada a fraca expressão dos pequenos partidos, nada disso! Tem em democracia o mesmo direito de chegar aos portugueses e se tem uma fraca expressão é por causa também desta influência dos grandes partidos ajudados pelos meios de comunicação, que, com estas "inocentes" opções, decide aquilo que é de interesse para nós.
Se a escolha partidária só nos é parcialmente mostrada então o que temos aqui é manipulação das nossas escolhas. Sabe o leitor aquilo que defende para o país o PPM, PND, o MPT, o PNR ou o PCTP/MRPP? Se sabe faz parte de uma pequena minoria, muitos dos quais, para saber, tiveram que procurar muito bem, uma vez que podemos correr jornais ou todas as bandas da rádio e da televisão e nem uma palavra.
Vendo bem a balança: Os cinco partidos grandes entram-nos facilmente pela casa dentro, basta ligar uma televisão e lá estão eles, sem esforço, sem espinhas... é congressos e opiniões sobre tudo e todos. Os pequenos, temos de fazer um esforço descomunal para saber o que pensam e fariam relativamente a qualquer assunto que nos toque.
Lendo as informações avançadas este fim-de-semana pelo "Expresso" percebe-se que a troika prepara um autêntico golpe de Estado neste País. Não se limitará a exigir, em troca do empréstimo, condições que garantam o seu pagamento - a juros que estarão longe de ser justos. Em troca, determina mudanças políticas e económicas estruturais, muitas delas de constitucionalidade mais do que duvidosa. Entre algumas das que se prevêem estará, além de alterações em setores fundamentais para a soberania de qualquer País, a privatização de grande parte das empresas públicas. Objetivo? Dois: "menor intervenção do Estado na economia" e criação de um fundo para a recapitalização da banca privada nacional.
Esta será apenas uma das muitas medidas que aí vêm. Mas ela é um excelente exemplo do que está em causa.
Antes de mais, a imposição de uma agenda ideológica à margem da democracia. As correntes radicais impõem as suas receitas - as mesmas que levaram o mundo ocidental a uma enorme crise financeira - usando instituições sem a legitimidade do voto e torneando a democracia. Aqueles que aplaudem estas medidas nunca se devem esquecer disto mesmo: venceram contra a democracia. Poderão impôr o seu ponto de vista mas ele não tem a força moral da legitimidade democrática. O modelo social que garantiu meio século de paz, de prosperidade e de uma igualdade sem precedentes na Europa será destruído através da suspensão de todas as regras democráticas. Não é através do voto do povo que lá chegarão.
Esta medida, como outras, deixará claro o objetivo destas intervenções em países em crise: transferir recursos do Estado para um setor financeiro descapitalizado pelos seus próprios erros. Parte das receitas da privatização (em saldo) do património público terá como destinatária a banca privada nacional. Depois de obrigarem os contribuintes a salvar com dinheiros públicos bancos geridos por criminosos, depois de obrigarem os Estados a pagar juros usurários, a última parte do assalto será feita mais às claras e imposta por quem ninguém elegeu.
Fica provado o que já se suspeitava: o capitalismo financeiros com rédea solta é incompatível com a democracia. A ganância sem limites derruba todos os obstáculos que encontra pela frente. E o último é este: o poder dos cidadãos e do seu voto.
Corremos muitos riscos se resistimos a este golpe de Estado e a este assalto? Sim. Mas o que está em causa é quase tudo o que realmente interessa: se estamos dispostos a entregar aos assaltantes tudo o que temos, incluindo a nossa democracia, ou se vamos, independentemente de todos os perigos, resistir.
O presidente da Fundação Francisco Manuel dos Santos fala sobre crise, eleições e o futuro do País.
Teorizou e reflectiu em voz alta que é o que gosta fazer, reviu a matéria e reviu-nos a nós, em crise e num "regime bloqueado". Evocou políticos e partidos sem se enternecer e foi capaz da frontalidade do costume e da fidelidade aos seus cavalos de batalha. António Barreto, 68 anos, preside actualmente aos destinos da Fundação Francisco Manuel dos Santos, a "mãe" da "Pordata" (ele é o pai) onde estão hoje em curso 18 projectos (!) sob a sua regência: uns já em vias de concretização, outros ainda em fermentação, mas como todos o solicitam por igual, o trabalho é pesado. No final do ano impôs-se uma pausa - foi para o Vidago - e fez solene recomendação a si mesmo - menos sofreguidão laboral em 2011. Portugal gostaria de contar mais com ele no palco mas aí, ou ele disfarça, ou todas as nostalgias ficaram já irremediavelmente para trás: "não". Barreto está bem como está. Uma sorte.
As presidenciais teriam sido um bom momento de arranque, para a seriedade, a responsabilidade e o trabalho de que Portugal precisa, ou...como falo com um pessimista, já não ia muito a tempo? Não sou pessimista. Sou céptico, é diferente. Sim, a campanha podia ter sido diferente, os principais candidatos podiam ter exposto mais o seu pensamento, as suas intenções os projectos, mas foram muito cautelosos quanto a isso.
O momento pedia o contrário... Pedia. Mas caímos sempre no mesmo com este regime que não é semi-presidencial nem coisa nenhuma. Qualquer futuro Presidente da República sabe que dependerá do Parlamento, dos partidos, sabe que não tem poderes e gostava de ter mais... Assim, tiveram cautela e falaram genericamente do desenvolvimento de Portugal!
"Fale-se aberto! , | 28/01/11 16:51 Que grande novidade, o País definha-se a todo o momento por culpa da Classe Política oportunista e incompetente, Mas São Todos iguais, Não há um Só que se distinga, assim como os Líderes dos Partidos e Organizações Políticas. Quanto a PR há que dizer uma Verdade Nua e Crua, o PR em Portugal é uma Figura do Faz de Conta, Não Tem Poderes nem pode fazer nada, é sómente mais uma pessoa a ser sustentada pelos Portugueses. Afinal pergunta-se; para que serve o PR? E mais, para que serve a AR e os Deputados? Para Nada, É que os Deputados São Uma Vergonha em Tudo, Não Sabem Ocupar o seu Lugar, Não Sabem Exercer as suas Funções, Não São Democratas, Não Respeitam os Cidadãos, Não Respeitam quem os escolheu, enfim, Deputados e AR Não deviam de existir por Não Servirem Os Interesses Nacionais. Dirão, como se pode dizer isto se estamos em Democracia? Mas qual Democracia? Vejam a Legislação emanada da AR e depois tirem conclusões. Afinal estamos ou Não estamos piores do que em 1976? Bem piores, e piores estaremos enquanto os Portugueses Não Fizerem a Revolução Portuguesa, ou seja, enquanto os Portugueses Não expulsarem e Destituirem Todos os Políticos que gravitam em Portugal. Portugal jamais será um País Livre e Democrático. Estes Políticos Não são políticos, São individuos Sem Escrúpulos, Sem Formação Política, Sem Formação Académica Reconhecida, Sem Educação, Sem Respeito e Dignidade. Portugal Tem que Fazer Imediatamente Uma Revolução, Não de Cravos e Flores, uma Revolução que Expulse e Retire Todos os Privilégios a Todos os Políticos e a aqueles que os apoiaram por serem Indivíduos que Desonraram a História e Cultura de Portugal."
"Oliveira , Coimbra | 28/01/11 14:20 Eu também gostava de arranjar o belo TACHO que o Barreto arranjou, ficar a fazer estudos numa Fundação para o resto da vida, dar palpites nas TV´s, etc, emprego catita - quanto é que ele ganha, já agora, alguém sabe?... Gostava que ele o disesse publicamente, sobretudo quando fala de "sacrifícios", para ver se não é para os outros só... Ainda me lembro do "outro" Barreto, tinha a voz menos delicodoce e foi um dos ministros que DESTRUIU a agricultura no Alentejo, outros tempos... se calhar agora até acha que devíamos ter mais produção agríciola, mas na altura em que teve poder só destruiu e nada mais, pois... Saltitou no PS, agora anda a reboque do PSD, é daqueles que flutua muito bem ao sabor das circunstâncias, o sociólogo "bloco-central" encostado à Direita perfeito!... É mais um daqueles que vai "criando" opinião porque integra a esquadrilha de malta amiga que saltita nos Orgãos de Com. Social, sempre os mesmos, sempre na mesma linha, sempre para convencer o povo que não há alternativa, é o "caos", é a "miséria", é o FMI, etc. Reparem bem nos "comentadores" de serviço - sempre os mesmos... A crise está até a ser óptima para estes rapazes - já viram o que devem ganhar só com depoimentos, comentários e artigos para jornais?... Olarilas! Eles sabem-na toda... :-)"
"M. N. , Algarve | 28/01/11 12:13
Será que não existem umas "Almas" patrióticas, que queiram defender os altos valores da Nação Portuguesa ?
que queira lutar pela defesa da moralidade na vida Pública,
que queiram encabeçar um movimento na luta contra a corrupção,
na luta contra o compadrio,
na luta pela valorização do trabalho e daqueles que produzam riqueza social,
na luta pela alteração da Constituição ( reduzindo o nº de Deputados ) e os que componham a AdaR defendam intransigentemente o País e os Portugueses,
Será que não seria possivel formar esse Movimento Cívico, composto por Cidadãos honestos, integros, lutadores, com sensibilidade social e que queiram ficar na História como os Salvadores de Portugal ?
Se nada for feito, com urgência, temo que venhamos todos a cair num grande lamaçal de MISÉRIA E SOFRIMENTO"
"M. N. , Algarve | 28/01/11 11:52
Eu faço parte dos mais de 6.000.000 de Portugueses que não se revêm nos actuais politicos e governantes.
Agora pergunto, o que mais é preciso para esta situação ser alterada ?teremos que executar acções, como na Tunísia, Egipto, Libano, etc. ???
Sinceramente , acho que esse não será o melhor caminho e por isso não desejo que aconteça !"
«Mete-se tudo na ordem e depois então venha a democracia», disse a líder do PSD
A presidente do PSD, Manuela Ferreira Leite, perguntou hoje se «não é bom haver seis meses sem democracia» para «pôr tudo na ordem», a propósito da reforma do sistema de justiça, noticia a agência Lusa.
No final de um almoço promovido pela Câmara de Comércio Luso-Americana, Manuela Ferreira Leite elegeu a reforma do sistema de justiça «como primeira prioridade» para ajudar as empresas portuguesas.
Questionada sobre o que faria para melhorar o sistema de justiça, a presidente do PSD demarcou-se da atitude do primeiro-ministro, José Sócrates, que «na tomada de posse anunciou como grande medida reduzir as férias do juiz».
Defendendo a ideia de que não se deve tentar fazer reformas contra as classes profissionais, Manuela Ferreira Leite declarou: «Eu não acredito em reformas, quando se está em democracia...», fazendo nessa altura uma pausa e deixando a frase por concluir.
«Quando não se está em democracia é outra conversa, eu digo como é que é e faz-se», observou em seguida a presidente do PSD, acrescentando: «E até não sei se a certa altura não é bom haver seis meses sem democracia, mete-se tudo na ordem e depois então venha a democracia».
«Agora, em democracia efectivamente não se pode hostilizar uma classe profissional para de seguida ter a opinião pública contra essa classe profissional e então depois entrar a reformar - porque nessa altura estão eles todos contra. Não é possível fazer uma reforma da justiça sem os juízes, fazer uma reforma da saúde sem os médicos», completou Manuela Ferreira Leite.
A presidente do PSD disse que a última coisa que faria num discurso de posse como primeira-ministra seria «atacar fosse quem fosse» e acusou o Governo de ter falhado as reformas da educação, saúde, Administração Pública e justiça.
Crítica a reformas
«Qualquer político que pretenda alterar um sistema não o pode fazer contra esse sistema. Portanto, eu acho que estão arrumadas, no mau sentido, as reformas da educação, saúde, Administração Pública, justiça. Fizeram-se umas coisitas, mas não é a reforma», considerou.
À saída do almoço-debate, Manuela Ferreira Leite não quis responder às perguntas dos jornalistas, que tentaram questioná-la sobre as suas declarações relativas à democracia.
A presidente do PSD apenas respondeu à primeira questão, sobre o ministro da Agricultura, Jaime Silva, dizendo que mantém todas as críticas que fez à política agrícola do Governo: «Não retiro uma vírgula àquilo que disse».
Concordo plenamente Manuela. Eu, só por o que disse e porque estou de acordo já votava em si, mas o facto de ver alguns políticos da treta todos vermelhos em bicos de pés a gritarem, confirmo ainda mais o meu voto.
A democracia deixa-nos respirar a liberdade mas quando não é a oposição é a lei a impedir que algo se faça. Os cuidados excessivos para que algo se faça mesmo num país pequenino, tornam o estado num gigante esfomeado por impostos mas lento a agir e na maior parte das vezes nem o faz.
Se o governo eleito não tem poderes para fazer seja o que for, se as suas propostas são rejeitadas pela oposição, desgastadas pela Comunicação Social e sempre, mas sempre rejeitadas pelas classes profissionais abrangidas, nada se pode fazer. Como se faz uma reforma sem mudar as coisas, as más e as boas ?. Penso que seja nesse sentido que Manuela Ferreira Leite Fala e é nesse sentido que eu concordo com ela.
Todos os sectores em Portugal necessitam de reforma, nenhum a quer fazer e todos acham que é melhor estar mal do que mudar para outra situação que acham ainda pior.
Todos os sectores afectam os portugueses, desde a saúde ao ensino, passando pela justiça e as polícias, os militares e até o próprio sistema político.
Sem poder e sem que as coisas se façam nada muda. A democracia actual asfixiou o poder e ao memo tempo não consegue também cuidar do cidadão logo necessita também de mudar.
É claro que não defendo uma ditadura, mas talvez este comentário de MFL abra uma porta para se falar e pensar sobre a democracia e os seus problemas.