Madeira: instalação de radar meteorológico não teria resolvido nada
Cientistas defendem que instalação de um radar na Madeira não teria resolvido nada na prevenção da catástrofe, ao contrário do que disse o Instituto de Meteorologia. Clique para visitar o dossiê Catástrofe na Madeira
A instalação de um radar na Madeira não teria resolvido nada em termos de prevenção da catástrofe que se abateu sobre a ilha na manhã do dia 20 de Fevereiro, asseguram vários cientistas ligados à previsão do tempo contactados pelo Expresso.
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Um radar meteorológico detecta à distância a aproximação de gotículas, gotas de chuva ou granizo, mas não de nuvens
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"O facto de não termos um radar meteorológico na Madeira dificulta a previsão destes fenómenos, que poderiam ser antecipados entre quatro a cinco horas de tudo acontecer, já que este aparelho abrange uma distância de 150 a 200 km", afirmou na altura da catástrofe o presidente do Instituto de Meteorologia.
Adérito Serrão justificou a ausência deste equipamento, que custa dois milhões de euros, "por falta de orçamento" e, numa visita à Madeira três dias antes do desastre, o presidente do Instituto de Meteorologia já tinha falado na necessidade de um radar para a ilha.
Instituto de Meteorologia "tem falta de conhecimento actualizado"
"O radar será certamente útil, mas deve ficar liminarmente claro que a falta de aviso à Protecção Civil e às populações não se deveu à sua ausência", explica Delgado Domingos, coordenador do Grupo de Previsão Numérica do Tempo do Instituto Superior Técnico, acrescentando que "o que falta ao Instituto de Meteorologia não é equipamento científico, mas sim conhecimento actualizado e motivação".
Pedro Miranda, coordenador do Grupo de Modelação Atmosférica e Climática do Instituto Dom Luiz (Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa), concorda que a existência de um radar na Madeira "não teria resolvido o problema".
O investigador esclarece que o radar só detecta a aproximação da chuva e não as nuvens, ou seja, "só vê o sistema frontal a aproximar-se". Mas o sistema frontal que avançava em direcção à Madeira no dia 20 de Fevereiro "não tinha a intensidade que depois se veio a revelar".
Assim, "foi a topografia, o relevo acentuado da Madeira, que fez com que o sistema frontal se tornasse mais intenso quando estava sobre a ilha, e aí o radar já não iria a tempo de alertar as autoridades antes da catástrofe". Pedro Miranda insiste ainda que "não basta comprar um radar, é preciso formar cientistas e técnicos para trabalharem com ele".
Governo toma decisão "politicamente correcta"
E João Corte-Real, decano dos climatologistas portugueses, critica o Instituto de Meteorologia "por falar na necessidade de um radar aproveitando a calamidade na Madeira", o que levou o ministro da Ciência, Mariano Gago, "a dizer logo que sim porque era politicamente correcto naquele momento".
O professor catedrático da Universidade de Évora reconhece que "Portugal precisa de mais radares, mas qualquer decisão tem de ser planeada e faseada no tempo e não pode funcionar assim", porque "são aparelhos caros que exigem um software muito apurado".
Mas obviamente que têm vantagens. "Não fazem previsões mas observações, só que têm um raio de acção de 200 a 300 km, muito maior que os instrumentos das estações meteorológicas locais".
Actualmente, a Rede de Radares Meteorológicos do Instituto de Meteorologia tem aparelhos nos Açores (Base das Lajes, ilha Terceira) e em dois locais do Continente: Coruche (Ribatejo) e Loulé (Serra do Caldeirão, Algarve).
João Corte-Real defende que "Portugal precisa de mais radares no Norte do território, tanto na costa como nas montanhas do interior". De facto, está prevista a instalação de um radar em Arouca (Área Metropolitana do Porto).
in Expresso
Mau tempo: Pelo menos 53 mortos confirmados
erome Fouquet/EPA |
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Centenas de pessoas foram obrigadas a abandonar as suas casas devido às inundações no norte de França. Vento forte fez cair árvores e derrubou telhados e muros na Alemanha |
A tempestade ‘Xynthia’, a mesma que atingiu Portugal no sábado, fazendo uma vítima mortal, deixou ontem um rasto de destruição em França, Espanha, Alemanha e Bélgica, causando a morte a pelo menos 53 pessoas.
França foi o país mais atingido, com 45 mortos confirmados. A região da Vendée (centro-oeste) foi a mais afectada, com pelo menos 29 mortos devido a inundações, deslizamentos de terras, quedas de árvores e acidentes causados pela chuva forte e pelo vento ciclónico, que soprou com rajadas de velocidade próxima dos 200 km/hora.
O número de vítimas mortais poderia ainda aumentar, já que pelo menos uma dezena de pessoas estavam desaparecidas. Havia ainda registo de pelo menos 59 feridos e mais de um milhão de pessoas sem electricidade.
Em Espanha o mau tempo causou a morte a pelo menos três pessoas: duas na cidade de Burgos, quando um carro foi atingido por uma árvores arrancada pelo vento, e uma terceira vítima esmagada pela queda de um muro na Galiza.
Na Alemanha havia a registar pelo menos quatro mortes, e na Bélgica morreu uma pessoa.
A tempestade ‘Xynthia’ deverá ainda fustigar a Bélgica, o Luxemburgo e a Dinamarca, países onde já foi inclusivamente decretado o alerta máximo face à iminente ameaça de chuvas fortes e de ventos ciclónicos.
PORMENORES
Voos cancelados
O mau tempo condicionou o funcionamento do aeroporto de Frankfurt, Alemanha, um dos mais movimentados da Europa, cancelando vários voos.
Um morto em Portugal
A tempestade que se formou no Atlântico causou a morte a uma criança em Portugal, no sábado.
Mau tempo continua
A tempestade está a atravessar a Europa de sudoeste para nordeste e deverá atingir hoje a região da Escandinávia.
F. J. Gonçalves com agências
Xynthia leva França a declarar calamidade pública e preocupa agora o Reino Unido
por Liliana Valente com agências, Publicado em 01 de Março de 2010 | Actualizado há 38 minutos
Tempestade já fez pelo menos 47 mortos em França
A França declarou estado de "calamidade pública" após a passagem da tempestade Xynthia que já fez 47 mortos. O primeiro-ministro François Fillon declarou que se trata “de uma catástrofe nacional” o que permite ao país pedir à União Europeia a atribuição de fundos do seu orçamento de solidariedade para ajudar a enfrentar os danos provocados pela tempestade Xynthia, anunciou domingo o gabinete do secretário de Estado francês dos Assuntos Europeus.
A tempestade, que atravessou a França este fim de semana, provocou a inundação de localidades costeiras no oeste, causando elevados danos materiais e a morte de pelo menos de 47 pessoas no país, de acordo com o último balanço oficial, actualizado esta manhã pelo Ministério do Interior.
A tempestade que tem estado a devastar a Europa é agora esperada no Reino Unido que está desde ontem com alertas de inundações. As autoridades colocaram uma parte do país em alerta devido à possibilidade de a tempestade colocar vidas e propriedades em risco.
A Agência do Ambiente inglesa já contactou algumas pessoas directamente na zona de Burry Brook, perto de Kings Ripton e Ramsey.
Segundo os últimos dados, a tempestade já terá feito quatro mortos na Alemanha.
O Presidente da República, Nicolas Sarkozy, visita hoje as zonas afetadas pela intempérie.
Sarkozy desloca-se ao litoral sudoeste francês, visitando as regiões de Vendée e Charente-Maritime a partir da cidade de La Rochelle, onde a sua chegada está prevista para as 10:50 (09:50 em Lisboa).
Pierre Lellouche “vai estar em Bruxelas amanhã (hoje) para se reunir com o Comissário para a Política regional Johannes Hahn”, indicou o gabinete do secretário de Estado.
“Pierre Lellouche vai apresentar um primeiro balanço da tempestade e pedirá fundos do orçamento de solidariedade da União Europeia”, acrescentou.
A tempestade, formada no Atlântico, afeta a Europa desde sábado.
Após ter atravessado Portugal e a Espanha, atingiu França antes de continuar rumo à Bélgica e Alemanha. É agora esperada no Reino Unido.
O Sr. Francisco fez-nos referência ao Elucidário, fiquei curioso e li-o, indo consultar, obviamente as referências de que nos falou o Sr. Francisco Pina, e lá estavam elas:
(Pag.107 ELUCIDÁRIO MADEIRENSE - VOLUME I)
Aluviões. Na relação que abaixo publicamos vão indicadas todas as aluviões que tem havido na Madeira e sobre as quais conseguimos obter alguns esclarecimentos. É de advertir, porém, que a aluvião de 1724 não foi a primeira que causou prejuízos, pois que Mouquet que esteve aqui em 1601, diz, embora não precise datas, “que as águas que descem das montanhas algumas vezes destroem pontes e casas em toda a ilha”.
18 de Novembro de 1724. Os estragos desta aluvião fizeram-se principalmente sentir na freguesia de Machico, morrendo ali 26 pessoas e abatendo-se mais de 80 habitações. No Anno Histórico, referindo-se o Padre Francisco de Santa Maria á aluvião de 1724, diz que “padeceu a ilha da Madeira uma tormenta e dilúvio tão grande, que destruiu a vila de Machico, parte da de Santa Cruz e muitos outros
logares e sítios da mesma ilha, e também a cidade do Funchal experimentou grande dano e muitas ruínas, assim nas suas muralhas como na povoação, com a enchente da Ribeira do Pinheiro (Santa Luzia) que a divide”
18 de Novembro de 1765. Em virtude das grandes chuvas, cresceram muito neste dia as ribeiras que atravessam o Funchal, sendo destruída a Ponte da Praça e sofrendo bastante outras pontes da cidade.
As águas da Ribeira da Praça ou de João Gomes arrastaram para o mar o inglês Moita (?), o qual nunca mais apareceu.
9 de Outubro de 1803. Foi neste dia tristemente memorável que uma grande inundação assolou os campos da Madeira e destruiu uma parte considerável da cidade, causando não somente enormes prejuízos materiais mas também a perda da vida de alguns centenares de pessoas. Pode sem duvida considerar-se a maior calamidade que tem ferido esta ilha no largo período de cinco séculos. Longe iríamos se quiséssemos fazer uma descrição pormenorizada desta tremenda catástrofe e por isso nos limitamos a traçar umas breves notas, rapidamente colhidas nas crónicas do tempo.
Tinham caído algumas chuvas, com várias intermitências, nos dez ou doze dias que precederam o 9 de Outubro de 1803. Neste dia, pelas 8 horas da manhã, começou a cair no Funchal uma chuva não muito copiosa, que se manteve inalteravelmente até ás 8 horas da noite, mas nada fazia recear que estivesse iminente uma tão terrível inundação. Principiou então a ouvir-se o ribombar do trovão e a chuva, acompanhada de algum vento, caía já em verdadeiras catadupas. Ás 8 horas e meia as águas das ribeiras galgavam as suas margens e espalhavam-se com grande ruído pelas ruas laterais, começando a sua obra de destruição e de morte. Estava-se em pleno dilúvio.
É indescritível o pavor que se apossou dos habitantes, que maior se tornou ainda pelo inopinado do acontecimento, que a um grande numero apanhou de surpresa e sem possibilidade de pôr-se ao abrigo do perigo que a todos ameaçava. A morte surpreendeu a muitos na fuga, arrastados pela violência das correntes ou atingidos pelas derrocadas das casas e paredes que se desmoronavam.
Foi o bairro de Santa Maria Maior o mais sacrificado pela tempestade. A ribeira de João Gomes, com a abundância e violência das águas, rebentou em três diversos pontos, formando outras tantas impetuosas correntes que causaram os maiores estragos e vitimaram algumas dezenas de pessoas. Ruas inteiras e inúmeras casas de habitação e outros prédios foram arrastados para o mar, incluindo a igreja paroquial, conhecida pelo nome de Nossa Senhora do Calhau e que ficava na margem esquerda da ribeira, entre as actuais rua de Santa Maria e rua Nova de Santa Maria. Numa casa desta rua ficaram soterrados 21 indivíduos e num prédio do Pelourinho morreram um súbdito inglês e 15 pessoas de família. Calcula-se que só no bairro de Santa Maria Maior tivessem perecido cerca de 200 pessoas por ocasião da aluvião.
Os prédios marginais da ribeira de Santa Luzia também sofreram bastante. Acima da ponte do Bom Jesus as águas tomaram novo curso por uma e outra margem daquela corrente e, sobretudo na rua dos Ferreiros, causaram estragos consideráveis, tendo-se abatido diversas casas de habitação e lojas de comercio. O mesmo aconteceu na rua dos Tanoeiros e a vários prédios que ficavam na margem esquerda daquela ribeira e que formavam a rua Direita, prédios que foram arrastados pela violência da corrente.
Diz uma relação coeva do acontecimento: "Ruas inteiras desapareceram com seus habitantes e outras inundadas de água e lama deixaram os proprietários e inquilinos reduzidos á extrema indigência. Uma grande parte da freguesia de Santa Maria
Maior, assim como a sua igreja, a mais antiga da cidade, não existem com uma boa porção dos seus infelizes moradores: o resto disperso cá e lá, inundado e abandonado, oferece aos olhos do homem sensível um objecto de dor, de ruína e consternação. As ruas chamadas Direita, Tanoeiros, Valverde, Santa Maria, Hospital Velho e outras foram ao mar com uma incrível multidão de habitantes”.
Fora do Funchal, as povoações que mais sofreram com a horrível inundação foram Machico, Santa Cruz, Campanário, Ribeira Brava e Calheta, tendo sido relativamente pequenos os prejuízos causados nas freguesias do norte da ilha.
Com respeito á vila de Machico, lê-se o seguinte no arquivo da respectiva igreja paroquial: “...demoliu a muralha da ribeira, abateu a ponte e invadiu a vila de tal sorte que chegaram as águas á altura de três côvados na igreja e em todas as ruas. Esta inundacão prometeu a todos a morte; mas um prodígio evidente fez que se salvassem todos, excepto catorze pessoas que pereceram arrastadas pelas águas e aterrados nas casas”. Também demoliu a antiga e histórica capela do Senhor dos Milagres, tendo a respectiva imagem sido encontrada dias depois, no alto mar, por uma galera americana, que a fez depositar na Sé do Funchal.
Foram igualmente consideráveis os estragos que a aluvião produziu nas outras freguesias citadas, onde também houve a perda de muitas vidas.
São bastantes discordes as informações contemporâneas dos acontecimentos, com relação ao numero de pessoas que sucumbiram, vitimas daquelas inundações, chegando uma narrativa do terrível caso a computar em cerca de mil os indivíduos mortos e desaparecidos. Parece não estar muito distanciado da verdade quem fixar em seiscentos o numero aproximado dos que morreram, sendo a maior parte no concelho do Funchal.
Era então governador e capitão general D. José Manuel da Câmara, que fez publicar em demora um edital adoptando as imediatas e prontas providencias que as circunstancias de momento aconselhavam. O primeiro cuidado das autoridades foi procurar abrigo para os que tinham ficado sem casa de habitação e que eram em numero muito avultado. Os edifícios públicos, varias repartições de serviço do estado, muitas dependências das igrejas, dos quartéis e das fortalezas e ainda bastantes casas particulares foram destinadas a dar alojamento provisório àqueles indivíduos. Entre as medidas tomadas pelo governador, destaca-se a da absoluta proibição de serem elevados os preços dos géneros de consumo, sob pena de severos castigos infligidos aos transgressores.
A principal causa dos males produzidos pela aluvião foi a falta do encanamento das ribeiras. Embora tardiamente, resolveu o governo da metrópole realizar esse tão desejado melhoramento, enviando á Madeira o brigadeiro Reinaldo Oudinot encarregado de dirigir os respectivos trabalhos e que aqui chegou a 19 de Fevereiro de 1804. Revelou a maior competência no desempenho do cargo em que fora investido e
nele desenvolveu uma pasmosa actividade, conseguindo num período relativamente curto de tempo fazer o encanamento das três ribeiras que atravessam o Funchal. Em Dezembro de 1800, comunicava ele ao governo central que, a pesar dos grandes temporais e fortes invernias que pouco antes houvera, as muralhas tinham resistido ao embate violento das águas e oferecido uma prova evidente da solidez da sua construção.
Oudinot morreu nesta cidade a 11 de Fevereiro de 1807 e em memória dos seus serviços foi dado o seu nome á rua que fica na margem esquerda da ribeira de João Gomes, entre o Campo da Barca e a praça dos Lavradores.
Um pormenor interessante: tendo ficado de pé a capela-mor da igreja de Nossa Senhora do Calhau, mandou a provisão régia de 12 de Março de 1805 que ela se conservasse no mesmo estado em que a deixara a aluvião, como lembrança, para os vindouros, do acontecimento que mais funesto fora para os habitantes desta ilha. Em Dezembro de 1835 foi demolida parte da igreja que a aluvião respeitara e ali se construiu o mercado União, que há pouco se destruiu para o alargamento da rua que ali passa.
26 de Outubro de 1815. Depois da grande aluvião de 9 de Outubro de 1803 foi talvez a maior que tem assolado esta ilha. Numa representação que, sôbre os estragos causados por esta inundação de 26 de Outubro de 1815, dirigiu a câmara municipal do Funchal ao Príncipe Regente D. João, se afirma que esta foi *incomparavelmente maior do que a aluvião de 1803+, mas, nem pelo numero de vitimas nem pelos prejuízos que causou, atingiu as proporções da outra, a pesar das enormes perdas que acarretou aos habitantes do Funchal.
Como em outras ocasiões aconteceu, foram as correntes impetuosas das ribeiras que ocasionaram os maiores prejuízos. Especialmente nalguns pontos das margens das ribeiras que não tinham muralhas a ampararem e a dirigirem o curso das águas, saíram estas fora do seu leito, galgaram os terrenos marginais e abriram novo caminho, através das ruas e casas, causando não só incalculaveis estragos, como produzindo o maior pânico entre os habitantes, alguns dos quais foram vitimas do ímpeto indomável da corrente. Foi o que aconteceu com as águas da ribeira de S. João que, procurando novo percurso, arrastaram na sua violência cerca de vinte casas desde a ponte de S. Paulo, ao fim da rua da Carreira, até á foz da mesma ribeira.
Nas ruas marginais da ribeira de Santa Luzia, também foram grandes os estragos, ficando danificadas algumas casas e em alguns pontos as muralhas da mesma ribeira.
Por toda a ilha houve prejuízos consideráveis e morreram várias pessoas, arrastadas pela violência das correntes.
Os horrores da grande aluvião de 1803, ainda bem presentes na memória de todos, fizeram aumentar o pânico nos habitantes, que, na sua grande maioria, julgaram que não havia possibilidade de escapar á morte, que para eles parecia inevitável.
28 de Outubro de 1842. Havia quinze dias que quasi interruptamente caia um pequeno orvalho.
As 9 horas da manhã do dia 24 de Outubro as chuvas eram já abundantes, e ás 3 horas da tarde as águas pluviais caiam a torrentes. As águas das ribeiras saíram dos seus leitos e espalharam-se impetuosamente pelos terrenos marginais, causando grandes estragos.
Ficaram completamente inundadas as ruas do bairro de Santa Maria Maior, o Pelourinho, a rua dos Medinas e ainda outras, chegando a água a invadir os segundos e terceiros andares das casas. Em muitas ruas da cidade os barcos navegavam para a custo salvarem muitas famílias que imploravam misericórdia dos últimos andares e telhados. Por toda a parte se ouviam gritos de terror. Um dos homens a quem mais se
deveu a salvação de muitos infelizes inundados foi o cidadão Joaquim Dias de Almeida, mas houve muitos outros que se distinguiram, como nessa época fizeram menção o Imparcial e o Defensor, jornais do Funchal.
As calçadas de Santa Clara, do Pico, Bela Vista e Incarnação foram convertidas em caudalosas ribeiras. O bairro do Cemitério dos Inglêses ficou despovoado, sendo todos os seus moradores acolhidos e agasalhados, com todos os confortos, por uma proprietária abastada, que residia no fim da rua da Bela Vista.
Uma grande parte da cidade ficou destruída e as casas arruinadas até aos alicerces.
Muitas famílias remediadas ficaram pobres. Foi um prejuízo de centenares de contos de reis.
No dia 26, dois dias depois, o vento sul fez desencadear no porto do Funchal, uma medonha tempestade.
As ondas embravecidas saltavam as muralhas da Pontinha e por vezes lamberam a esplanada do Ilhéu, vindo durante a tarde despedaçar-se nos rochedos da praia do Funchal, dez ou onze embarcações, sendo os tripulantes e guardas, que se achavam a bordo, salvos milagrosamente pelo guarda da alfândega Carvalho e por uns marítimos arrojadissimos, distinguindo-se sempre nestas catástrofes Joaquim Dias de Almeida.
17,18,19 e 20 de Novembro de 1848. Houve nestes dias grandes inundações, principalmente no concelho de Sant'Ana, sendo arrastadas pelas águas muitas bemfeitorias produtivas e importantes. No Funchal as águas das ribeiras correram com violência, mas, a pesar de copiosissimas, não produziram estragos sensíveis.
5 e 6 de Janeiro de 18596. Em virtude de chuvas abundantissimas, trouxe a corrente da Ribeira de João Gomes muito entulho que sobrepujou os mainéis entre a foz e o Campo da Barca. Não podendo as águas correr livremente, foram inundar a R. de Santa Maria, as travessas que a cortam, a R. do Ribeirinho de Baixo e o largo do Pelourinho, fazendo em todos estes pontos grandes destroços. A Ribeira de Santa
Luzia não causou prejuízos, embora ficasse também entulhada, mas a de S. João fez não pequenos estragos, principalmente nas proximidades da capela. Na Ribeira Brava, na Tabua, na Serra de Água, na Ponta do Sol, no Paul do Mar e noutras localidades houve também grandes devastações produzida pelas águas.
1 de Janeiro de 1876. As inundações deste dia só causaram prejuízos notáveis na freguesia da Madalena.
2 e 3 de Outubro de 1895. A aluvião que se deu nestes dois dias produziu grandes estragos nas freguesias de S. Vicente, Faial, Ponta Delgada, Boa Ventura e Seixal. Nesta ultima freguesia morreu o proprietário Manoel Inisio da Costa Lira. As ribeiras do Funchal trouxeram muita água.
8 e 9 de Novembro de 1901. As chuvas abundantissimas que nestes dois dias caíram no Funchal, inundaram as ruas e caminhos, danificaram muitos destes e provocaram alguns desmoronamentos, principalmente na Levada de Santa Luzia.
25 e 26 de Fevereiro de 1920. Nestes dois dias fez sentir um violento temporal de vento e chuva que causou inúmeros prejuízos em toda a ilha. As ribeiras que atravessam a cidade, embora trouxessem muita água, não chegaram a trasbordar, mas houve inundações em vários sítios, devido á abundância das chuvas e aos ribeiros da Nora, do Til e dos Louros terem ficado obstruidos. No bairro de Santa Maria chegaram a andar barcos nas ruas para conduzir pessoas de uns para outros pontos, e diz-se que e toda a ilha ficaram mais de 500 pessoas sem abrigo, sendo incalculaveis os destroços causados pelo vento N. W. no arvoredo, nos canaviais e em muitas outras culturas. No caminho do Lazareto morreu um indivíduo que se dirigia de noite para sua casa e no molhe da Pontinha morreu um outro que trabalhava no Cabrestante, sendo tal a impetuosidade do vento no dia 25 e parte do dia 26, que era perigoso transitar
mesmo nas ruas da cidade. No dia 25, de tarde, foi suspenso, por causa do vento, o serviço de automóveis no Funchal.
A vila da Ribeira Brava correu grande risco de ser destruída pelas águas, tendo saído a imagem de S. Bento em procissão e havendo depois preces na igreja paroquial. Em Machico, Santa Cruz, S. Vicente e Camacha registaram-se importantíssimos prejuízos, morrendo uma mulher e uma criança nesta ultima freguesia.
Desapareceram, com os respectivos tripulantes, alguns barcos de pesca de Câmara de Lobos, e o barco Arriaga, do Porto Santo, que conduzia 16 passageiros, foi impelido para o sul pelo temporal, sendo encontrado pelo vapor inglês Andorinha, que tomou os passageiros, arribando o barco ás Selvagens.
No dia 28 voltou a chover torrencialmente e no dia 2 de Março soprou de novo com grande violência o vento N. W., havendo também fortes aguaceiros, que duraram até á madrugada do dia 3.
5 e 6 de Março de 1921. Caíram nestes dias abundantes chuvas, acompanhadas de trovoada, em toda a ilha, havendo inundações e estragos em Machico, Ribeira Brava, etc., etc.. Em Machico as águas subiram nalguns pontos quasi ao primeiro andar das casas, e na Ribeira Brava morreram quatro crianças, sendo três em virtude do desmoronamento dum prédio e uma arrastada pelas águas.
Além das doze aluviões que ficam mencionadas, colhemos noticia, num antigo manuscrito, que no ano de 1611 houve uma grande enchente no Funchal, que, entre os notáveis estragos que causou, se conta o de ter destruído em grande parte a igreja paroquial da freguesia de Santa Maria Maior que então ficava na rua que hoje tem o nome de Hospital Velho. Procedeu-se depois á construção duma nova igreja nas imediações do actual fontanário chamado do Calhau, e que foi arrastada para o mar pela aluvião de 1803.
Também temos noticia doutra aluvião que se deu no ano de 1707 e que causou consideráveis prejuízos em toda a ilha.
Eis os links directos para download dos volumes em “pdf”:
Resta saber porque havendo conhecimento de que ciclicamente isto acontece, o engenho humano não se precaveu.
De qualquer modo e posto isto terão que tomar medidas para que tal não se repita e isso terá obrigatoriamente que passar por grande investimento em estruturas de controlo, orientação e contenção de águas.