Trancada dentro de um quarto sem luz natural, onde lhe era atirado um balde para as necessidades, vergada pelas agressões da sua própria família e profundamente subnutrida. A fazer lembrar "uma refugiada de um campo de concentração". Foi deste cenário que os inspectores da Unidade Nacional Contra-Terrorismo da PJ salvaram anteontem, em Fajarda, Coruche, Jacinta Formigo, 66 anos. E foi assim que a vítima e o seu filho Carlos, 42 anos, passaram os últimos 14 meses. Tudo para que o seu outro filho e a nora lhes pudessem roubar, respectivamente, a reforma e o subsídio de invalidez.
Há cerca de dois anos que os habitantes de Fajarda não viam Jacinta pelas ruas da aldeia, tal como o seu filho Carlos, portador de uma deficiência mental profunda. As pessoas não desconfiavam de nada, mas ontem, quando souberam pelo CM que ambos eram mantidos prisioneiros em casa pelos próprios familiares, ficaram chocados. Os sequestradores são Ricardo e Germana Formigo (46 e 43 anos), filho e nora de Jacinta, que assim guardavam as cadernetas bancárias das vítimas e roubavam as pensões do Estado.
Estão agora indiciados pelos crimes de rapto, extorsão e violência doméstica, depois de a PJ ter sido chamada pela GNR, eram 15h00 de segunda-feira. A participação pelo desaparecimento tinha chegado ao posto local por parte de outro familiar, e havia a suspeita de que as vítimas eram prisioneiras em casa.
Este estado de "miséria humana", como classificou a Polícia Judiciária, durava há cerca de 14 meses – pouco depois de o marido de Jacinta se ter suicidado, ingerindo veneno. Em Junho do ano passado, Jacinta viu a sua casa ser invadida pelos familiares, com o objectivo de a extorquir. A ela e ao filho Carlos, que até há cerca de dois anos esteve internado numa casa do Biscainho, localidade próxima, mas voltou para casa da família. Também ele era vítima de maus tratos físicos e psicológicos por parte do irmão e da cunhada – enfiado num compartimento e trancado a cadeado e com correntes. Tal como a mãe, fazia as necessidades fisiológicas no chão ou num balde de plástico.
Anteontem, eram 17h00 quando a PJ chegou ao nº 89 da rua António Roquete, na pacata aldeia, e se deparou com um cenário "chocante". Enquanto os dois sequestradores foram detidos e levados para Lisboa, as vítimas foram imediatamente assistidas: Jacinta no Hospital de Santarém, já estando ontem à guarda de outros familiares; e Carlos num centro de solidariedade social da Cruz Vermelha.
Na casa estavam ontem três filhos dos sequestradores que continuam hoje a ser interrogados por um juiz. Ao que o CM apurou, Ricardo confessa tudo e diz que a mulher, Germana, era o cérebro do crime. Por ganância.
CASA FREQUENTADA POR CRIANÇAS DE COLO
As condições desumanas em que viviam Jacinta e Carlos Formigo estavam longe dos olhares dos habitantes da pequena povoação de Fajarda, a poucos quilómetros de Coruche, mas bem presentes no dia--a-dia dos familiares.
O pior é que a referida casa onde estes eram mantidos fechados é frequentada por cinco crianças, algumas delas ainda de colo, que presenciavam este cenário indesejado em que viviam os sequestrados e os familiares.
Diariamente, os filhos de Sara Bacalhau e de Miguel Formigo – netos e sobrinhos das duas vítimas e filhos dos dois suspeitos – conviviam com os episódios de violência e de más condições das vítimas.
Os maus tratos de que as vítimas foram alvo eram facilmente escondidos da população, até porque a casa térrea onde viviam na Fajarda não se encontrava à beira da estrada. Está recolhida cerca de 20 metros para o interior de um terreno e mal é vista por quem passa a pé ou de carro na estrada. A habitação fica muito perto da escola primária daquela localidade ribatejana.
Anteontem, ninguém se apercebeu da chegada das autoridades à referida moradia da Fajarda, pelo que alguns habitantes que se encontravam à porta de um estabelecimento de restauração só ficaram a saber do sucedido através da nossa reportagem.
"OS MEUS PAIS GEREM O DINHEIRO"
Sara Bacalhau, filha dos suspeitos e neta e sobrinha das vítimas, vive actualmente na casa que era da avó, paredes-meias com a residência onde tudo aconteceu. E defende os pais. "Ninguém foi mantido prisioneiro ou maltratado. Desde que o meu avô morreu que eram os meus pais quem geria o dinheiro da minha avó, que tem problemas psiquiátricos, e do meu tio, deficiente", começa por contar a jovem, de 22 anos, bombeira em Coruche. "Alguns quartos eram mantidos fechados mas era para eles não mexerem em certas coisas lá dentro."
PORMENORES
BOMBEIROS NO LOCAL
Os bombeiros que acorreram ao local para transportar a vítima deficiente ao Hospital de Santarém são colegas de Sara Bacalhau, filha dos suspeitos, também ela bombeira em Coruche.
FUNCIONÁRIO DA CÂMARA
Ricardo Formigo, de 46 anos, suspeito dos maus tratos à mãe e ao irmão, é funcionário da Câmara de Coruche. A mulher, também suspeita, trabalha no campo.
DISCURSO DIRECTO
"É COMUM A APROPRIAÇÃO DE REFORMAS": Carlos Poiares, Psicólogo criminal
Correio da Manhã – Como é que um homem, em conjunto com a mulher, chega ao ponto de sequestrar a própria mãee o irmão?
Carlos Poiares – Trata-se de pessoas que observam os outros como meros instrumentos, objectos. Só servem para providenciar proventos monetários. É um caso repugnante, pois reduziram duas pessoas vulneráveis à ínfima condição humana para ter acesso às pensões.
– Estes casos são frequentes?
– Não de uma forma tão violenta. Mas é comum a apropriação das reformas por familiares. Também há outros casos de sequestro, mas é em condições humanas.
– O caso ocorreu numa aldeia pequena. Como é que ninguém se apercebeu?
– É em sociedade de plástico, centrada no seu umbigo. A solidariedade na aldeia foi esquecida.
NOTAS
MINISTRO: PRISÃO PREVENTIVA
O ministro da Justiça, Alberto Costa, comentou este caso, dizendo que os crimes de violênciadoméstica são puníveis com prisão preventiva como medida de coacção.
TRIBUNAL: INTERROGATÓRIO
Ricardo e Germana Formigo foram ontem presentes a um juiz do Tribunal de Coruche para lhes serem atribuídas medidas de coacção, mas o interrogatório vai continuar hoje.
PJ: "CENÁRIO DE MISÉRIA"
Luís Neves, director da Unidade Nacional Contra-Terrorismo da Judiciária, diz-se surpreendido, apesar dos muitos anos no terreno, "pelo cenário de miséria" encontrado.
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